Rodrigo França responde ao Questionário LexLatin

"O melhor investimento na carreira profissional é estar sempre buscando atualizações e novos conhecimentos"/Divulgação
"O melhor investimento na carreira profissional é estar sempre buscando atualizações e novos conhecimentos"/Divulgação
Advogado atua na coordenação da área de compliance do TC.
Fecha de publicación: 22/06/2021

O advogado Rodrigo França é o novo chief compliance officer do TC, plataforma para investidores. Rodrigo é formado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), pós-graduado em direito penal econômico e europeu pela Universidade de Coimbra e doutor em direito pelo programa “Aspectos Jurídicos e Econômicos da Corrupção'', da Universidade de Salamanca, na Espanha. O advogado que traz experiências dos setores público e privado dentro e fora do Brasil, respondeu ao "Questionário LexLatin".

Quais são seus objetivos de curto, médio e longo prazo em seu novo cargo?

No curto prazo, é importante mapear eventuais deficiências nos processos e controles internos que já existiam antes da minha chegada. Para então, caso seja necessário, promover um redesenho de caráter geral, ou mesmo criar e implementar novas políticas e processos internos – todos fundamentais para manter a completa adequação da empresa e suas várias atividades ao ambiente regulatório brasileiro.

Passada essa fase de análise inicial, no médio e longo prazo a área de compliance é responsável por manter a engrenagem girando da melhor maneira possível. Isso se consegue, dentre outras coisas, com a mudança de cultura em relação a certas práticas e aspectos do cotidiano, com a realização de treinamentos periódicos, por vezes específicos para algumas áreas, como comercial, marketing, comunicação, etc., ou mesmo com o monitoramento constante de atividades que, por natureza, são mais sensíveis e inspiram maiores cuidados.


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Qual foi o melhor investimento em sua carreira profissional?

Educação continuada. Estar sempre buscando atualizações e novos conhecimentos. E isso não significa, necessariamente, matricular-se em todos os cursos, certificações ou programas que são oferecidos pelo mercado. Muitas vezes, essa reciclagem de conhecimento surge do aprendizado com pessoas mais experientes ou com vivência prática em outras áreas.

O mundo atual está muito dinâmico: na comunicação, na circulação de pessoas, nos relacionamentos, no acesso à informação. E disso pode surgir uma vasta gama de oportunidades, inclusive com um investimento gratuito, com um custo financeiro zero, digamos. Como diz uma canção (“La Danza del Fuego”) de uma banda espanhola chamada Mago de Öz, “El mejor día es en el que el alma tiene hambre y sed; no olvides lo aprendido, no dejes de comprender”. 

Como um advogado pode desenvolver sua marca pessoal?

Diferentemente dos Estados Unidos, onde é permitida a publicidade e a propaganda de serviços jurídicos sem muitas restrições (quem assistiu a série Better Call Saul vai se lembrar bem disso – aqueles outdoors gigantes, comerciais no rádio e na TV, etc.), no Brasil, o Código de Ética e Disciplina da OAB restringe bastante a publicidade profissional do advogado – a um caráter meramente informativo e sem que possa configurar a captação de clientes ou a mercantilização da profissão. Por isso, é muito difícil trabalhar com marketing pessoal na área jurídica.

A saída mais eficaz é mesmo o networking. Converse com outros profissionais, faça contatos, apresente-se, mas, sobretudo, mostre comprometimento e um trabalho de excelente qualidade. É muito semelhante a um marketing boca a boca: um cliente acaba por te indicar a outro cliente, e a outro, e a outro. Uma rede de contatos ativa e uma ótima reputação profissional sempre trarão novos clientes e trabalhos desafiadores. E isso, claro, reforça naturalmente seu nome e sua marca pessoal.

O que você mais gosta e não gosta na profissão de advogado?

A argumentação, o debate em prol da defesa de um cliente ou dos melhores interesses de uma causa. A nobreza da profissão, que permite ao advogado atuar como um intermediário na busca por justiça ou na mitigação/reparação de um dano. Mas esse bônus da profissão, no Brasil, vem logo seguido por um ônus indigesto e que me deixa profundamente desgostoso: o custo de manutenção do Poder Judiciário brasileiro e a sua lentidão.

Cerca de R$ 110 bilhões por ano, quase o orçamento inteiro do Ministério da Educação, para um sistema judiciário que ocupa a nefasta 30ª posição mais lenta, dentre 133 países pesquisados, segundo um estudo do Banco Mundial. Exercer a advocacia, no Brasil, requer muita calma e paciência.

Cite alguém (um exemplo a ser seguido, um tutor) que influenciou sua carreira?

Logo que me formei em Direito, na PUC-Campinas, fui para Portugal estudar na Universidade de Coimbra. Quem me motivou e me indicou o caminho das pedras foi um ex-professor, de Lógica e Filosofia Jurídica, chamado Álvaro Iglesias.

Passei anos entre Portugal, Espanha e Inglaterra e, por isso, não tive muitos tutores, ou influenciadores, no Brasil. Já na Inglaterra, quando efetivamente comecei a trabalhar na área de compliance, uma pessoa foi fundamental para o meu desenvolvimento: o professor Barry Rider, OBE.

Sem sequer me conhecer previamente, convidou-me para uma conversa descontraída em seu escritório, em Londres, ouviu minha história, percebeu e acreditou na minha vontade, e me ajudou de várias formas: desde o simples acesso, sem custos, às bibliotecas do Institute of Advanced Legal Studies (IALS), da Queen Mary University of London (QMUL) e também da London School of Economics (LSE), ao convite para ajudar na organização, como membro e palestrante de um dos maiores e mais importantes simpósios internacionais sobre crimes financeiros, em Cambridge (Cambridge International Symposium on Economic Crime).

E até mesmo à apresentação de toda uma rede de contatos e networking profissional que pude aproveitar da melhor forma possível. Enfim, uma pessoa exemplar que posso, sem sombra de dúvida, apontar como tutor e que influenciou minha carreira profissional desde o começo.
 

Que filme/romance na área jurídica você recomendaria?

Existe um clássico de 1957 que vale a pena: 12 Homens e uma Sentença. Doze jurados se reúnem para decidir sobre a culpabilidade de um acusado por crime de assassinato. No início, apenas um dos jurados duvida da culpa do assassino e, enquanto tenta convencer os demais jurados a repensarem sobre a condenação do réu, os traços de personalidade de cada um deles vão sendo revelados.

Em 1997, houve uma nova versão do filme original, com o mesmo nome e, em 2019, a Netflix lançou uma excelente série belga – Doze Jurados – que é, em alguma medida, baseada no filme de 1957.

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