Rodrigo Junqueira: "2022 não vai ter o mesmo nível de movimentação de 2021"

"Decidimos começar com o modelo híbrido voluntário, mas ele vai deixar de ser assim no começo de março"/Divulgação
"Decidimos começar com o modelo híbrido voluntário, mas ele vai deixar de ser assim no começo de março"/Divulgação
LexLatin retoma série de entrevistas com principais lideranças do mercado jurídico brasileiro.
Fecha de publicación: 10/01/2022

LexLatin começa 2022 retomando a série de entrevistas com CEOs e managing-partners dos escritórios nacionais e regionais. A intenção é mostrar o que pensam os grandes líderes da firmas brasileiras e como as medidas adotadas durante a pandemia, em diferentes momentos, podem servir de guia para todo o mercado. Também abordamos as transformações na economia, na política e na gestão da indústria jurídica. 

Na primeira entrevista do ano conversamos com Rodrigo Junqueira que assumiu o cargo de managing-partner do Lefosse em julho de 2021, no segundo ano da crise sanitária. O advogado é especialista em direito societário, M&A, mercado de capitais e private equity. Ele atua principalmente em operações no mercado de capitais, incluindo equity e dívida, assessorando tanto emissores quanto coordenadores. 

A entrevista aconteceu na sede do escritório em São Paulo. Junqueira, que tem seu mandato até julho de 2024, avaliou perspectivas do mercado jurídico para 2022 e a evolução de questões importantes como ESG, diversidade e saúde mental. Confira a seguir.

Luciano Teixeira: Quais temas jurídicos relevantes para os escritórios médios e grandes agora em 2022 e como vocês vão trabalhar com a volta das atividades presenciais?

Rodrigo Junqueira: Tivemos uma volta voluntária das atividades desde outubro, com todos os protocolos de saúde e segurança. Implantamos um sistema de reserva de vagas e instalamos lockers individuais e há medidores de temperatura em todos os andares.

Para esse ano, decidimos começar com o modelo híbrido voluntário, mas ele vai deixar de ser assim no começo de março, logo depois do Carnaval. Agora em janeiro tem férias e está todo mundo viajando. Temos fevereiro com as práticas nesse novo modelo para iniciar com o presencial em março. Achamos que era melhor fazer com um espaço de tempo, desde o anúncio, para todo mundo começar já avisado e preparado para isso. Serão três vezes presencial, duas vezes em casa. Vai poder escolher o dia, super flexível.

Teremos algumas ajudas financeiras para o modelo híbrido. Por exemplo, um valor fixo por mês para cobrir despesas de internet. Já que vamos adotar o modelo híbrido, teremos um valor fixo mensal e também o valor de reembolso para aquisição de equipamentos ou móveis: cadeira, monitor, coisas que as pessoas ainda não têm ou que estão emprestadas hoje do escritório.

Teremos ainda quatro sextas-feiras, short fridays, por ano. Todo advogado só vai trabalhar nestes dias até o meio dia e depois tem um final de semana prolongado. Além disso, teremos emendas em feriado. Vamos ser flexíveis e fazer um esquema de rodízio para as pessoas poderem aproveitar as pontes.

LT: Essas mudanças no modelo híbrido vieram para ficar? Esse planejamento é para 2022 ou a perder de vista?

RJ: Por enquanto a perder de vista. É óbvio que vamos monitorar para ter certeza da adaptação.

LT: Qual a expectativa hoje de atividades para o mercado dos escritórios médios para grandes como vocês?

RJ: Temos uns dez escritórios que eu considero competidores reais, apesar do tamanho. Acho que eles tiveram um 2021 foi muito bom, como nós, que atravessamos o melhor ano da história em termos de faturamento, margem e lucratividade. Mas em 2022 estamos um pouco mais cautelosos. Vai ter o mesmo nível de movimentação, principalmente na área transacional, mas IPO, por exemplo, vai ter muito menos.

Você tem necessariamente a partir de julho um total congelamento de mercado de capitais. Então, julho, agosto, setembro e outubro, até você ter uma definição de eleição, nada acontece. Um ano eleitoral é, para o mercado de capitais, certamente complicado, do ponto de vista que você tem um ano menor. Você tem uma perda de mais ou menos uns quatro ou cinco meses por conta de eleição.

Pode ter uma aceleração no primeiro semestre de algumas coisas que nem estavam prontas para sair, mas eu não acho, por exemplo, que vai ser um ano igual a 2021, do ponto de vista de operações e movimentos. Você pode ter muito follow-on, que são companhias abertas que vão acessar o mercado e que já são conhecidas pelo investidor e o investidor está acostumado a negociar com elas. IPOs eu acho que vão ser bem mais difíceis.


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LT: IPOs aqui no Brasil ou IPOs fora? Fora pode não ter influência da eleição?

RJ: Vai continuar ativo, mas a influência da eleição continua, porque os ativos são brasileiros e tem algum reflexo. Agora, óbvio, quando você vai fazer uma listagem lá fora, você acessa outro tipo de investidor que às vezes está menos suscetível a instabilidades políticas e econômicas do país, mas o ativo é brasileiro.

LT: Continuando essa conversa de ano eleitoral, o que pode afetar o mercado jurídico?

Rodrigo Junqueira
Rodrigo Junqueira

RJ: O que a gente espera é que, do ponto de vista de práticas, vai continuar tendo M&A porque vai continuar tendo consolidação, vai continuar tendo oportunisticamente investimentos. Até porque o Brasil está barato, se você pensar do ponto de vista do câmbio, do ponto de vista de desenvolvimento econômico.

Então, private equities que captaram fundos recentemente vão gastar o dinheiro, porque os ativos estão baratos no Brasil. Então vai continuar acontecendo.

No setor de energia vai continuar acontecendo muita coisa. Tem muitos projetos de energia andando. Recentemente foi anunciada uma grande transação de energia, a Eneva comprou o Focus. Há muitos projetos de geração distribuída, projetos de cogeração, muitos projetos de energia solar. Vai ter muita coisa de energia e infraestrutura sendo trabalhada ainda.

E você continua com a área de recuperação judicial e de stressed assets relevantes. Apostamos muito na área de fundos. Tivemos uma mudança de regulamentação de fundos vindo da CVM que deve aquecer esse mercado. Assim, todas as casas de private equity, fundos e gestoras vão continuar muito ativas. E uma outra aposta é o contencioso, por conta de pandemia e de mudança legislativa que no Brasil ocorre muito.

LT: Que tipos de contencioso?

RJ: Muita arbitragem em cima de contratos e transações de M&A. Quando se tem uma situação econômica difícil, você estica muito a corda nas cláusulas e dá briga. Então você vai para arbitragem. Tem alguns contenciosos temáticos, por exemplo, aqui no escritório muita coisa de logística e muita coisa de energia também. O mercado de energia está borbulhando, do ponto de vista de projetos, do ponto de vista de companhias sendo criadas porque não tem energia no Brasil.

LT: Tivemos algumas mudanças importantes na pandemia do ponto de vista da diversidade, principalmente para as profissionais mulheres. Vários escritórios fazem questão de ressaltar agora a promoção de advogadas a sócias. Elas conseguiram conquistar um espaço a mais?

RJ: Não acho que foi a pandemia, já era uma tendência antes, até mundial de ter mais presença feminina e de todas as áreas de diversidade: racial, LGBTQIA+ e pessoas com deficiência. No fim do dia as organizações - e eu tenho lido muito sobre o assunto, estou muito aprofundado nisso - acabam perdendo oportunidades de visões diferentes, olhares de ângulos que não necessariamente um homem heterossexual branco tem de mundo. É um movimento que vai crescer ainda, vai continuar crescendo.

LT: Temos relatos de vários casos de depressão, gente que desistiu de tudo e largou a profissão. Existe hoje um plano para esses profissionais? O mercado está cuidando dessa questão, do psicológico dos advogados?

RJ: Acredito que o mercado tem prestado atenção cada vez mais nisso, mas muda muito de casa para casa: as visões às vezes são diferentes, mas a preocupação é a mesma. As ferramentas que implementamos aqui no escritório, por exemplo, é muita comunicação e ficar muito perto. Vou te dizer algo quase contraditório: a pandemia nos ajudou a comunicar melhor.

Lançamos ferramentas e programas para estar mais envolvidos com o advogado, para estar mais perto deles. Fizemos small talks e programas de mentoria. Temos aqui um café com o managing partner, comigo, que eu faço de três em três meses com o escritório inteiro. É para ouvir coisas aleatórias, não tem um tema específico.

Então, me pergunta. O que você quer saber? Para onde estamos indo? Para onde não estamos? Na hora que você cria esse canal se aproxima das pessoas e limita um pouco essa sensação que a pandemia trouxe de estar todo mundo longe. O nosso programa de home office tem o nome "juntos". Tem uma razão para esse nome. Mesmo à distância, mesmo trabalhando em casa, estamos juntos do advogado e do cliente. Está todo mundo aqui colaborando para fazer um negócio melhor, mais legal, para oferecer um serviço bacana.

Então, é um pouco isso. Tem ferramentas sim: é comunicação, transparência, aproximação, programas de treinamento, programas de mentoria, dia a dia e organizar as práticas em team days. Durante o home office está programado, pelo menos uma vez a cada 15 dias, o time daquela prática específica estar presente no escritório. Para quê? Para trocar, para estar presencial, para se ver, para fazer alguma coisa junto. Isso é muito importante para a saúde mental e pode diminuir a depressão que as pessoas tiveram mesmo durante a pandemia.

LT: Mudou alguma coisa no modelo de remuneração? Existe hoje uma pressão do cliente por mudanças? O que o advogado hoje tem que se atentar? Quem é esse cliente que sai da pandemia e o que vocês precisam fazer como profissionais da área jurídica?

RJ: Eu acho que o cliente sai com as mesmas preocupações e agonias que nós. Esse lado humano acho que está todo mundo muito à flor da pele. Na hora de você discutir e fazer uma negociação de M&A, por exemplo, a mesa fica um pouco mais tensa. Está todo mundo muito tenso. Dá pra sentir isso. Então, óbvio que na relação com o cliente você tem que tomar um pouco mais de cuidado, ser um pouco mais cuidadoso.

Temos passado isso, não só para os sócios, mas para os advogados também. Os nossos clientes, pelo menos em crise, - e acho que nas outras casas aqui que a gente compete é parecido - buscam assessoria sênior. Por que os escritórios estão tendo resultados muito bons durante a pandemia e tendo lucratividade histórica, porque o cliente busca consultoria sênior. Quando você tem horas mais seniores sendo trabalhadas e pagas pelo cliente, a margem naturalmente aumenta.


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LT: Um assunto que está bombando no mercado jurídico atualmente é o ESG. Como o escritório e o mercado jurídico, no geral, tem olhado para essa questão?

RJ: Temos uma frente grande que cobre todas as frentes de ESG. A parte de governança, obviamente aqui do escritório, está super azeitada e eu acho que somos catalisadores de outros profissionais, de outros escritórios, justamente pela nossa governança clara, simples e transparente. Não somos um escritório de dono e não tem aqui um rei, cada um tem um voto.

Então nossa governança é muito tranquila. Na parte de meio ambiente temos trabalhado com muitas empresas para green bonds e assessorado as empresas, principalmente as mais poluidoras e as que estão tentando fazer essa mudança para uma área mais sustentável em algumas mecânicas. Na parte de diversidade social somos premiados por isso.

LT: O que o managing partner do Lefosse traz de diferencial para o mercado jurídico?

RJ: Temos um olhar muito de negócio para o escritório. Advogado é um bicho vaidoso e acha que sabe de tudo. Quero sair um pouco dessa armadilha e trazer um time profissional para assessorar em estratégia, execução e planejamento. Hoje giramos, acho, como um negócio. E acredito que somos percebidos pela gestão e pela administração como um negócio, além de um olhar muito humanizado. Sei de concorrente nosso que está ainda preso na armadilha de que o profissional precisa sair da baia para sala dividida, da sala dividida para sala individual, da sala individual para sala maior, da sala maior para a sala de sócio. Isso acabou e não existe mais.

A geração que vem aí está preocupada com outras coisas: se o ambiente é de inclusão, leve, tem mobilidade e flexibilidade. Não é só dinheiro mais. Temos dividido a estratégia do escritório para as pessoas saberem. Para onde é que estamos indo e como? Quais são as ferramentas que essas pessoas estão usando? O modo como estamos fazendo as coisas é muito importante para o pessoal hoje. Então, você ter esse olhar para o seu corpo de advogados e saber comunicar isso bem, para mim, é essencial. Acho que os principais escritórios do Brasil não fazem isso ou não fazem isso bem ou estão presos em armadilhas como a da sala ou estão presos em armadilhas como o dono querendo mandar no escritório.

LT: Você tocou no assunto das novas gerações pressionando as gerações que estão há mais tempo no escritório. O que mudou?

RJ: Precisamos nos adaptar ao fim do dia. E adaptação não é assim: daqui cinco anos eu me adapto de novo. Não. Provavelmente daqui a seis meses. Temos um novo cenário e pode ser que o programa que lancei em dezembro... em agosto... não funcione mais e precise de alguma adaptação para aquilo que estou vendo acontecer aqui dentro do escritório.

Quanto mais rápido acontecer essa adaptação e comunicação, em trazer as pessoas para saber o que está acontecendo, vamos atrair e reter as melhores pessoas. Somos um negócio de pessoas, não tenho máquina aqui. Tenho 550 profissionais trabalhando todo dia, então é preciso estar muito perto das pessoas.

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