"Dados, dados, dados! Não consigo fazer tijolos sem argila." Essa famosa frase foi dita por Sherlock Holmes, icônico personagem criado pelo escritor escocês Sir Arthur Conan Doyle, no livro O Mistério das Faias de Cobre, em 1892.
Essa frase revela a importância da informação nas ações que realizamos diariamente. A necessidade de ter dados precisos e confiáveis é uma constante em qualquer profissão e ainda mais na área jurídica, em que as decisões tomadas têm consequências significativas.
Num escritório de advocacia, a qualidade da informação gerada pelos advogados é decisiva para o crescimento ideal do negócio. Isso porque as decisões estratégicas que definem os rumos da empresa não são tomadas com base na mera intuição dos sócios, mas no valor dos dados.
Ressalta-se que as informações produzidas pelos advogados são influenciadas por crenças e preconceitos individuais (conscientes ou inconscientes) que podem comprometer a qualidade dos dados. Neste sentido, surgem algumas questões: como podemos confiar que as decisões tomadas numa empresa são corretas se se baseiam em informações que podem ser tendenciosas? É possível correr o risco de iniciar uma cadeia de más decisões? E qual a melhor forma de abordar a origem do problema?
Para entender melhor o papel que os dados desempenham na gestão de um escritório de advocacia, vejamos o seguinte exemplo: o sócio-gerente de um escritório de advocacia decide fazer uma revisão semestral dos relatórios de ponto de seus associados juniores, para analisar a distribuição nos diferentes clientes da firma. Durante a avaliação, o sócio responsável observou que um de seus associados havia investido seu tempo (debitado horas) em um único assunto para o mesmo cliente. Consequentemente, decidiu não incluí-lo na lista de candidatos associados a uma promoção. Mas onde estava o erro nessa decisão?
Esse sócio, com base apenas nas informações do relatório de horas de trabalho, não considerou que o associado estivesse trabalhando em um caso de grande repercussão e, portanto, não conseguiu “cobrar horas” de outros clientes e não dedicou tempo suficiente ao sistema de gerenciamento de tempo.
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Outros dados que poderiam ter sido considerados para a promoção do referido associado são a satisfação do cliente, os resultados dos casos, a alocação de recursos em função da dificuldade dos assuntos, entre outros. No entanto, o sócio baseou sua decisão em um relatório tendencioso que poderia resultar na perda de um talento que fazia contribuições significativas para a firma.
Exemplos relacionados com a “cargabilidade” dos advogados são talvez os mais comuns: desde a transparência e exatidão dos dados até sua correta interpretação. O exemplo acima é apenas uma breve referência às consequências que podem advir da tomada de decisões com informações incompletas ou tendenciosas.
Fernando Torrontegui, coach executivo e consultor especializado em gestão de projetos jurídicos, aprofunda a relevância da gestão de dados em escritórios de advocacia, em seu mais recente ebook, que você pode baixar aqui. Torrontegui aborda o tema por meio de ferramentas fora da caixa, como a janela de Johari e outras mais conhecidas, como o coaching executivo.
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Em que ponto convergem a informação e o sucesso da gestão de perfis profissionais
Para otimizar a gestão de dados em um escritório de advocacia, Torrontegui incorpora diversos conceitos valiosos. Em particular, destaca os benefícios da janela de Johari como ferramenta de autoconhecimento. Ao integrar técnicas como essa, não só se melhora a gestão da informação, como também se estimula uma maior introspecção e compreensão pessoal na equipe, o que é crucial para a tomada de decisões e para a construção de relações de confiança que, em última análise, são o eixo central da indústria jurídica.
Segundo Torrontegui, “existem recantos escondidos na nossa estrutura de pensamento, alguns desconhecidos e outros que optamos por ignorar por medo do que possamos descobrir. Nossas crenças, preconceitos e educação influenciam esse processo de autoconhecimento. É crucial explorar tanto o que ‘sabemos que sabemos’ como o que não sabemos, seja consciente ou inconscientemente.”
Para quem não está familiarizado com o conceito, a janela de Johari (desenvolvida pelos psicólogos Joseph Luft e Harry Ingham em 1955) se baseia na ideia de que todos temos aspectos de nós mesmos que conhecemos e não conhecemos, bem como aspectos que são conhecidos ou desconhecido para outros. É representado por uma janela dividida em quatro quadrantes, cada um simbolizando diferentes áreas do conhecimento:
- Área aberta: onde eles conhecem o que você permite que seja conhecido.
- Área escondida: onde eles não podem acessar certas informações sobre você e eu — que você sabe, mas decide manter inacessível.
- Área desconhecida: revela-se um panorama desconhecido tanto para eles como para você.
- Área cega: onde eles têm informações sobre você que você mesmo desconhece.
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Essa ferramenta — explicada mais detalhadamente no ebook de Torrontegui — serve para avaliar e organizar a informação produzida pelos advogados com o intuito de alinhá-la com os objetivos estratégicos do escritório. De outra perspectiva, o modelo de janela de Johari é um recurso valioso para projetar e analisar indicadores-chave de desempenho que orientam decisões para o crescimento ideal dos negócios.
“Esta informação, gerada ao longo de diferentes períodos, é a fonte do conhecimento, e esse conhecimento, aliado à experiência e ao trabalho diário, permite uma aprendizagem contínua.”
Para finalizar, o objetivo deste artigo é incentivar a importância de tomar decisões baseadas em informações legítimas e que, por meio de diferentes ferramentas (modelos de comunicação, coaching executivo, entre outras), é possível abrir caminho para um melhor ambiente de trabalho, mais dinâmico e eficaz.
“A Janela de Johari e o coaching executivo podem atuar juntos como um conjunto eficaz para ajudar os advogados a navegar pelos desafios e oportunidades apresentados nesta exploração. O objetivo final é facilitar o crescimento e a evolução dos profissionais do direito, incentivá-los não apenas a serem competentes, mas também corajosos, inovadores e dispostos a aprender com seus erros.”
*O conteúdo do e-book As horas (não) faturáveis, a janela de Johari e o coaching executivo para advogados, de Fernando Torrontegui Sola, é publicado em espanhol.
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