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No fim do ano passado o Banco Central publicou a Resolução BCB nº 32, que estabelece os requisitos operacionais e técnicos para a implementação do Open Banking no Brasil, também conhecido como Sistema Financeiro Aberto (SFA). Os requisitos presentes incluem modalidades de participação, forma e prazo para registro das instituições.
De acordo com a resolução, que já entrou em vigor, as instituições financeiras poderão participar na modalidade obrigatória ou voluntária e ambas deverão se registrar e seguir as regras previstas para cada modalidade.
Atualmente no Brasil cada banco possui o histórico de cada indivíduo como correntista, de forma exclusiva, e que está “guardada” com a respectiva instituição. Se você opta, por exemplo, mudar sua conta para outra Instituição, não há uma “memória bancária”. Cada um mantém-se vinculado apenas às instituições financeiras com as que possui relacionamento.
Isso afeta, principalmente, pequenos empresários, que geralmente possuem dificuldades de obter produtos e serviços financeiros e as fintechs, que lutam para ganhar espaço no mercado financeiro e tendem a sofrer mais regulações.
Por trás das taxas elevadas de juros, dos altos índices de inadimplência e da oferta escassa de crédito para pequenos negócios está a concentração de mercado em poucos bancos. Enquanto grandes instituições financeiras detêm extenso armazenamento de dados e comportamento dos clientes, empresas menores veem sua capacidade de competir limitada.
Assim, com o objetivo de promover a concorrência, a transparência e permitir aos cidadãos melhores condições de crédito, foi implementado o open banking no Brasil, sistema em que os dados bancários e financeiros passam a ser dos clientes – e não mais dos bancos. O resultado final seria o aumento da competitividade e desconcentração do mercado financeiro, o que resulta diretamente na economia de forma positiva.
O que se espera na prática dessa implementação é a desconcentração do mercado financeiro e que o sistema financeiro se torne mais justo, seguro e garantidor. Mais do que uma questão de tecnologia, o open banking só alcançará os resultados pretendidos quando consumidores e empresas confiarem no sistema.
Sem dúvida, o novo modelo bancário tende a beneficiar pequenos empresários, comerciantes, pessoas físicas, e as fintechs. Os ambientes digitais com informações bancárias compartilhadas permitem um maior acesso e, ainda, ao que se espera, maior número de produtos e serviços e melhores taxas de juros.
É possível dizer também que, em tempos de pandemia, quando a crise assola o país, a implementação desse novo sistema deve impulsionar a economia no Brasil. Isto porque ocasionará a livre concorrência no sistema bancário que atualmente é controlado por algumas poucas instituições.
Diante desse novo modelo podem surgir dúvidas com relação à proteção de informações pessoais e financeiras. Nesse caso, devemos lembrar que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGDP) já está em vigor, e, assim, o modelo de banco aberto deve, rigorosamente, seguir a proteção de dados dos indivíduos com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural, nos termos do artigo 5º da Lei.
Além disso, o artigo 18 da LGPD estabelece os diversos direitos que um titular possui, tais como, por exemplo: confirmação da existência de tratamento; acesso aos dados; correção de dados incompletos, inexatos ou desatualizados; portabilidade dos dados para outro fornecedor de serviço e revogação do consentimento.
Outra questão é que as relações bancárias estão sujeitas ao regime jurídico previsto no Código de Defesa do Consumidor, conforme artigos 2º e 3º. Referido enquadramento foi, inclusive, matéria sumulada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) na súmula 297.
É possível afirmar que os bancos, sejam as grandes Instituições bancárias ou até mesmo instituições não-financeiras, deverão adotar regras de segurança da informação, conforme previsão da LGPD, a fim de evitar medidas jurídicas.
Vê-se uma dualidade: de um lado, é necessário que o open banking desenvolva e cumpra medidas para que não ocorra o compartilhamento de dados e serviços. De outro, tem-se consumidores usufruindo com segurança e satisfação as vantagens desse sistema.
Desta forma, a privacidade, a proteção dos dados pessoais e o direito à autodeterminação informativa, ou seja, a faculdade que cada pessoa tem de exercer controle sobre seus dados pessoais, devem ser o centro absoluto do sistema financeiro aberto.
*Felipe Porfírio Granito é sócio e Renata Felicissimo Paglione é advogada do escritório Granito, Coppi, Boneli e Andery Advogados (GCBA Advogados Associados).
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