Temos abordado com frequência as questões relativas à chamada “terceira via”. O grupo, que está longe de unificado, talvez tenha chegado a seu limite, com onze pré-candidatos à sucessão presidencial. Quais as chances de cada um dos postulantes?
João Dória (PSDB) - o governador paulista rivalizou com Bolsonaro na pandemia e acabou vencendo as prévias do PSDB. Mas Dória não consegue nacionalizar seu nome e segue unicamente com o seu maior ativo político, a vacinação contra a Covid.
Eduardo Leite (PSDB) - o governador gaúcho perdeu embate no PSDB, mas pode mudar de partido e concorrer à presidência.
Arthur Virgílio Neto (PSDB) - franco-atirador na disputa tucana, o ex-senador tenta na verdade cacifar seu nome para a uma vaga no Congresso Nacional.
Ciro Gomes (PDT) - o polêmico ex-governador e ex-ministro não tem exatamente o perfil da terceira via, mas tem transitado nessa faixa e negociado com partidos do grupo. O perfil mercurial de Ciro Gomes tem mais uma vez atrapalhado seu projeto presidencial. Sem uma guinada efetiva no discurso e no comportamento, o neopedetista mais uma vez morrerá na praia.
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José Luiz Datena (União Brasil) - de malas prontas para o PSD de Gilberto Kassab, o apresentador deverá desistir da disputa presidencial e tentará uma vaga no Senado Federal. Mesmo assim, será importante cabo eleitoral para o nome que vier a apoiar.
Rodrigo Pacheco (PSD) - recém-filiado ao PSD, o presidente do Senado deu início à campanha sucessória. Ele tem conversado com diversas forças políticas e negocia para, no mínimo, integrar uma chapa como candidato a vice.
Simone Tebet (MDB) - destaque na CPI da Covid, a senadora conta com a estrutura e a capilaridade de seu partido. Mesmo assim, as chances de viabilizar sua candidatura presidencial são remotas - o final da CPI reduz drasticamente sua exposição e o MDB já trabalha para apoiar outro nome. A senadora, no máximo, ocupará a vaga de vice em alguma chapa.
Alessandro Vieira (Cidadania) - assim como sua colega Tebet, o senador Vieira ganhou espaço nacional durante a CPI da Covid. Essa exposição chegou ao fim e, desse modo, o parlamentar tende a aparecer menos para o eleitor. Sua pré-candidatura tende a perder fôlego e o Cidadania deverá aliar-se a partidos de centro.
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Luiz Felipe D’Ávila (Novo) - sem grandes perspectivas de tornar-se um candidato competitivo, D’Ávila fará o jogo de seu partido, repetindo a estratégia de 2018 - disputará a presidência para tentar eleger o maior número possível de parlamentares. O Novo, porém, enfrentará dois obstáculos: o racha interno, que reduziu significativamente o total de filiados, e a perda da aura de “novidade”. A legenda, hoje, é apenas mais uma no universo partidário brasileiro.
Sérgio Moro (Podemos) - mais recente novidade no campo da terceira via, o ex-ministro da Justiça, caso confirmada sua candidatura, será uma ameaça aos planos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Com seu discurso contra a corrupção, ele inevitavelmente tirará votos do titular do Planalto e, com isso, gerará também um problema para o ex-presidente Lula (PT), pois deverá herdar os votos do antipetismo. Seu grande problema será negociar alianças partidárias, pois muitas legendas foram alvo da Lava Jato.
A partir de agora e pelos próximos meses, será inevitável a redução dos postulantes da terceira via. Entre março e abril de 2022, os potenciais candidatos do grupo serão no máximo quatro. O principal desafio então será estabelecer um programa político minimamente viável, algo que não foi sequer esboçado até o momento.
*André Pereira César é cientista político.
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