ESG: Por que é tão importante para o Brasil?

Conceito de ESG vem se tornando essencial no sistema financeiro mundial/Pixabay
Conceito de ESG vem se tornando essencial no sistema financeiro mundial/Pixabay
País é um dos preferidos para projetos de investimento em desenvolvimento sustentável.
Fecha de publicación: 01/06/2021

O conceito ESG, fruto de uma numa iniciativa da Organização das Nações Unidas com as instituições financeiras em 2004, vem se tornando o "queridinho" do sistema financeiro mundial. A proposta inicial foi unir as instituições financeiras de vários países a partir dos temas:  

 

Environmental (ambiental): se refere às práticas ambientais, ou seja, como a empresa reduz o impacto ambiental e se preocupa com questões como aquecimento global e emissão de carbono; eficiência energética; gestão de resíduos; poluição e recursos naturais.

 

Social: como a empresa respeita as relações com seus clientes, colaboradores e funcionários. Os temas envolvidos nesta pauta são inclusão e diversidade; direitos humanos; engajamento dos funcionários; privacidade e proteção de dados; políticas e relações de trabalho; relações com comunidades e treinamento da força de trabalho.

 

Governance (governança): como a empresa adota as melhores práticas de gestão corporativa, a exemplo da diversidade no conselho; ética e transparência; estrutura dos comitês de auditoria e fiscal; e política de remuneração da alta administração.

 

Na verdade, a sigla de Environmental, Social and Governance é uma "velha senhora" repaginada que representa o conjunto de práticas ambientais, sociais e de governança adotadas pelo setor privado, especialmente o setor financeiro. Cuidar do meio ambiente, ter responsabilidade social e adotar as melhores práticas de governança não é novidade.


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Na década de 1970 o Clube de Roma (dedicado ao debate de assuntos relacionados a política, economia internacional e, sobretudo, ao meio ambiente e o desenvolvimento sustentável) já chamava atenção para esses temas. A questão é: porque a "velha senhora" ressurge?

 

Do lado financeiro, quando o dinheiro estava correndo fartamente e poucos previram a crise financeira de 2008, foi cunhado o termo Cisne Negro. Após a crise de 2008, a urgência em tentar antecipar as crises e o aumento de eventos extremos em consequência das mudanças climáticas levou o Bank for International Settlements (BIS), conhecido como "o banco central dos bancos centrais", a publicar o livro The green swan (O cisne verde).

 

O livro alerta que, na atualidade, o investimento privado supera em muito o investimento público global e que os eventos climáticos extremos, que aumentaram sua frequência e magnitude, trazem grandes custos. As interrupções na produção e os aumentos repentinos de preços, entre outros efeitos, podem afetar desde a vida das pessoas, até países, com consequências para as instituições financeiras. Ou seja, um efeito cascata, decorrente das mudanças climáticas, pode ensejar uma crise financeira global e, consequentemente, o setor financeiro se posiciona como um importante enforcement da questão ambiental.

 

Não há dúvidas de que o Cisne Verde já permeia todos os setores da economia e a pandemia teve um efeito indireto positivo de aumentar a importância da agenda climática. Por exemplo, como parte da estratégia do acordo verde europeu para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a Comissão Europeia está considerando levar estabelecer um imposto sobre o carbono nas importações.

 

Esse imposto poderá redefinir a competitividade global em uma série de setores, especialmente se acompanhado pelos Estados Unidos. Assim, a pandemia está acelerando a história e algumas tendências recentes estão sendo acentuadas levando a uma remodelação da globalização observando o desenvolvimento sustentável.

 

Investimentos que não comprometam com a sustentabilidade dos recursos naturais (ambiental), que não gerem impactos sociais positivos (social) e não sejam plenamente auditáveis e transparentes (governança) terão dificuldade em prosperar.

 

No caso do Brasil, arcabouços como o Código Florestal, que leva em conta o impacto do bioma na biodiversidade e no meio ambiente, são exemplos das instituições brasileiras que garantirão os investidores.

 

Porém, há muito o que fazer para o Brasil incrementar a sua reputação ESG e algumas atitudes não ajudam. Por exemplo, o discurso de que o Brasil é o país que dispõe da maior área preservada pode ser entendido como um aval para a desmatamento.

 

Além disso, essa afirmação não leva em conta que há grande diferença para o clima global o desmatamento da Floresta Boreal e o desmatamento da floresta Amazônica. Não é por acaso que o Código Florestal Brasileiro autoriza diferentes índices de desmatamento segundo os biomas brasileiros.


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O Brasil dispõe de importantes ativos ambientais e, portanto, está no centro do remodelamento da globalização. Nem tanto pelo seu poder geopolítico, mais pela importância dos seus biomas para mitigação das mudanças climáticas, em especial a Amazônia.

 

Além disso e apesar dos problemas atuais, que são mais um "tropeço" do que a regra na reputação ambiental do Brasil, a exuberância do clima tropical, o acúmulo de conhecimento e a capacidade de inovação e a resiliência das instituições coloca o Brasil na preferência mundial para projetos de investimento em desenvolvimento sustentável.

 

A necessidade de investimento e a carência de recursos financeiros internos sugerem que o respeito às instituições vigentes relacionadas com o meio ambiente, a exemplo do Código Florestal, interessa tanto ao Brasil quanto ao mundo. Cabe aos brasileiros escolher a via correta levando em conta que, apesar das mudanças na geopolítica, a negociação pragmática ainda supera o enfrentamento.

 

*Pedro Abel Vieira é pesquisador do Embrapa ([email protected]), Antônio Marcio Buainaim é professor do Instituto de Economia da Unicamp ([email protected]) e Roberta Grundling é analista da Embrapa ([email protected]).

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