O desenvolvimento das fintechs na América Latina

Os problemas estão na pouca ou nula regulação que muitas vezes essas empresas têm, o que pode levar a abusos para os consumidores/Unsplash
Os problemas estão na pouca ou nula regulação que muitas vezes essas empresas têm, o que pode levar a abusos para os consumidores/Unsplash
Promessa é de novas ideias disruptivas e formas de fazer negócios.
Fecha de publicación: 04/11/2021

Fintech é o acrônimo que nomeia as empresas de finanças e tecnologia. Este nome, tão antigo no mercado e que pode ser encontrado em publicações desde 1950, está muito em voga hoje em dia.

É o símbolo do desenvolvimento de ideias criativas aplicadas ao cotidiano do consumidor, através de um conjunto de inovações que tem como objetivo prestar serviços nos quais os bancos e instituições financeiras não chegavam ou, se chegavam, faziam com deficiência e com custo mais altos. 

São empresas que, por meio de softwares ou outra tecnologia, entregam um serviço financeiro e que colaboram com eficiência para transferir dinheiro de um lugar para outro, inovando e simplificando os processos de operação dos mercados financeiros. Nas suas origens, mudaram radicalmente a vida dos consumidores, o que impulsionou a integração dos serviços financeiros (uso de cartões de crédito, por exemplo) em setores massivos da população, a análise de dados e novas formas de avaliar riscos.

Hoje são um importante ator na indústria a nível global. Além da sua importância na vida das pessoas, com a pandemia e a digitalização dos serviços, é inegável que houve uma aceleração destas empresas, fomentando a informação e mobilidade de dados, o que no final se traduz em um ecossistema financeiro que promove o crescimento econômico.


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O mercado latino-americano

A situação na América Latina nunca foi tão promissora em relação a quantidade de empresas de tecnofinanças que existem no mercado. Estes serviços se desenvolvem através de análises preditivas e/ou inteligência artificial. Definem comportamentos e oferecem serviços de forma quase instantânea para os consumidores. A diversidade de negócios inclui, para citar alguns, contratos inteligentes, criptomoedas, open banking, Insurtech, Unbanked, cibersegurança, entre outros.

As fintechs vieram para modificar o mercado que antes era exclusivamente dos bancos e que estava garantido para eles. Estes perderam a confiança entre os consumidores já que, com o passar do tempo e com o uso de diferentes produtos e serviços oferecidos por eles, encontraram diversas barreiras, procedimentos infinitos, contratos extremamente leoninos, falta de negociação - muitas vezes - que são regras da autoridade ou “políticas do banco”, assim como prazos extensos de respostas e burocracia no geral. Essa ineficiência e assimetria estimulou o surgimento de novas ideias que ofereciam uma opção com processos mais rápidos, eficientes e com custos menores.

Os clientes estão mais empoderados e tomam decisões de consumo mais radicais, ao ter maior oferta de serviços. Estão deixando os antigos e arcaicos bancos. As fintech hoje em dia estão no epicentro das notícias e são, de fato, um ativo que agrega valor às sociedades nas quais participam, já que têm o objetivo social de incluir novos clientes na economia digital, através de um olhar mais humano e prático no serviço ao cliente. Isto se reflete não só no seu serviço, mas também no apoio para pessoas que querem impulsionar seu negócio ou para pequenas empresas.

As fintechs vêm para brigar por uma parte do marketshare com tecnologias disruptivas, aliadas a um grande volume de operações, transformam e criam novos mercados e targets de clientes. Este tipo de empresas, ao ter escalabilidade acelerada, geralmente devem estar na vanguarda da indústria com seus serviços, o que faz o mercado melhorar como um todo, ameaçando as indústrias tradicionais ao oferecer serviços mais ágeis, por meio de um aumento de tecnologia e simplificação de processos. Isso, inevitavelmente, beneficia o consumidor.

Benefícios para o consumidor

Algumas características que tornam as fintech positivas são:

  • Melhoram a eficiência e processos das transações, simplificando a burocracia.
  • Melhor nível de informação. 
  • Serviços/produtos tailor-made para o cliente.
  • Maior oferta de serviços iguais ou diferenciados, o que aumenta a concorrência.
  • Distribuição de informação homogênea.
  • Segurança.
  • Modelos ágeis e adaptáveis.
  • Custos mais baixos.
  • Criação de novos mercados.
  • Melhoria na experiência do consumidor.
  • Inclusão de novos clientes à economia digital.
  • Simplificação nas condições contratuais.

Do outro lado da moeda, os problemas estão na pouca ou nula regulação que muitas vezes essas empresas têm, o que pode levar à existência de abusos com os consumidores. Muitas empresas pelo simples desejo de ganhar escalabilidade do mercado ou ser vendidas a grandes fundos, se endividam em etapas imaturas e terminam mudando seu core business, o que pode prejudicar o consumidor. 


Veja também: Inclusão Digital: 34 milhões de brasileiros ainda não estão bancarizados


Regulação

Diferentes reguladores estão atentos para tentar dar um passo adiante (porque as fintech sempre ou quase sempre estão na vanguarda) e buscar regular os novos mercados que esta indústria cria, sendo uma preocupação para os governos das nações onde operam.

Apesar da rapidez com que essas empresas criam valor, a lenta mudança regulatória impacta ao colocar regulações gerais e estáticas que, infelizmente, não são publicadas de forma ordenada, mas podem ter sido promovidas por grupos de pressão. Em consequência, os legisladores acabam criando leis que não são harmônicas entre elas, não existindo políticas públicas de inclusão financeira. Vimos na região projetos e leis novas de fintechs que não estão alinhadas com um marco geral de prevenção de fraudes/cibersegurança, consolidação e proteção de dados, para citar alguns, o que se traduz em uma regulação que nasce defasada ou insuficiente. 

O mercado latino-americano de fintechs, ainda quando é muito dinâmico, é relativamente incipiente. Como a região não está tão atualizada em relação às regiões mais desenvolvidas, existe bastante espaço para replicar ou inovar. Por isso, nos últimos anos houve uma explosão de diferentes atores que colocaram o mercado da América Latina em um evidente leilão público de produtos e serviços para chegar a mercados carentes, o que se traduz em uma verdadeira corrida entre as empresas para captar mais volume e “se apoderar” do desejado “marketshare” de segmentos específicos de mercados/clientes.

Na minha perspectiva, o futuro para as fintechs trará um desenvolvimento sem precedentes na criação de diferentes produtos das mais diversas naturezas para os consumidores da região, o que fará com que surjam novas ideias disruptivas, criando novos canais de comercialização e novas formas de fazer negócios para oferecer aos consumidores produtos sob medida, mais eficientes e mais baratos.

*Diego Ignacio Gómez M. é advogado da Universidad de los Andes (Chile) e LL.M pela FGV (Brasil). Trabalhou em escritórios de advogados no Chile e no Brasil e empresas multinacionais líderes nas suas áreas para a região. Atualmente trabalha como in-house counsel na FIS, a maior fintech do mundo, e foca no México e América Latina.

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