A "anosognosia" nos escritórios jurídicos diante das consultorias

Anosognosia, uma condição neurológica na qual o paciente não sabe do que está sofrendo. / Crédito da imagem: www.canva.com
Anosognosia, uma condição neurológica na qual o paciente não sabe do que está sofrendo. / Crédito da imagem: www.canva.com
A negação ou indiferença diante de um diagnóstico do escritório feito por um consultor.
Fecha de publicación: 08/08/2023

Existem pessoas que não conseguem reconhecer que uma parte do corpo não está mais funcionando, que não têm sensibilidade e não percebem se não estão usando determinada roupa ou acessório. No campo da saúde, isso tem sido identificado como anosognosia, condição pela qual as pessoas se distanciam tanto que não conseguem identificar que a possuem. Usaremos esse termo figurativamente neste artigo.

Os escritórios de advocacia, em essência, são formados por profissionais que, individual ou coletivamente, influenciam o futuro da organização, por meio de seu comportamento e competências.

Atualmente, o mercado impõe inúmeras exigências que condicionam o desenvolvimento e a atividade das sociedades de advogados e dos seus profissionais. Essas mudanças exigem um alto grau de adaptabilidade nas empresas de serviços jurídicos e é necessário reconhecer, antecipadamente, como essas mudanças são analisadas, planejadas, desenhadas e executadas.


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Embora muito se fale sobre as mudanças que os escritórios de advocacia precisam fazer no nível organizacional, na verdade são as pessoas que trabalham para eles que precisam fazer isso. A formação dessas pessoas, as suas crenças e as culturas organizacionais nas quais se desenvolveram têm uma influência decisiva na sua capacidade de adaptação às novas exigências do ambiente.

Essas mudanças requerem uma análise interna, em que se deve avaliar as 'doenças' e os possíveis sintomas que podem surgir devido às novas exigências do ambiente.

É essencial identificar os obstáculos que impedem o progresso e a adaptação, bem como os recursos disponíveis ou em falta. Porém, mais uma vez, não são os próprios escritórios que se encarregam de realizar essa tarefa, mas sim as pessoas que fazem parte dessas organizações. E é aqui que as dificuldades podem surgir.

Durante a análise interna, ou diagnóstico, certas "manifestações neurocomportamentais" podem surgir em indivíduos do escritório que podem ser perigosas. Essas manifestações incluem a negação de um único sintoma interno, a negação completa dos problemas que afetam o escritório (observados principalmente em pessoas em cargos de poder que não querem reconhecer a existência de um problema e, muito menos, que estão em estado de negação), bem como a indiferença e despreocupação pela falta de perspectiva e evasão de responsabilidades na hora de tomar decisões em momentos de reflexão sobre a situação.


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Essas atitudes refletem a falta de consciência organizacional, competência essencial que deve estar presente em toda a organização. Consequentemente, os responsáveis ​​por esses escritórios deixam de prestar atenção aos sintomas que surgem internamente. Além disso, podem ignorar os estímulos que recebem de fora na mesma direção.

Na perspectiva da consultoria aplicada a escritórios de advocacia, quando um consultor trabalha com um cliente para coletar informações, fazer uma análise interna e externa e, então, fazer um diagnóstico, às vezes o cliente não concorda (mesmo sem negar o resultado) com o que revelam a análise e o diagnóstico. Apesar de ter participado ativamente do processo, o cliente pode acusar o consultor de errar por não ter todas as informações fornecidas pelo escritório e pelos responsáveis.

Esse fenômeno faz parte de uma versão modificada da terceira negação mencionada anteriormente, em que o cliente não nega o diagnóstico, mas também não o aceita. Existe uma atitude de indiferença face às recomendações e encontram-se desculpas para o não cumprimento, mesmo depois de terem trabalhado em conjunto no processo. Poderíamos nos referir a essa atitude como uma espécie de "anosodiaforia no campo jurídico" para descrever esse fenômeno.


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Em suma, os advogados têm a possibilidade de escolher e selecionar quais aspectos reconhecem para redefinir sua situação e alcançar um equilíbrio entre as demandas do setor jurídico, os problemas internos e externos que enfrentam em suas organizações, os diagnósticos fornecidos pelos consultores que contratam e os papéis que costumavam desempenhar em contextos passados, que têm pouca relevância no presente.

Um dos desafios a se enfrentar é evitar trabalhar a partir da "anosognosia" e a "anosodiaforia", ou seja, reconhecer a importância de estar plenamente consciente e deixar para trás crenças limitantes e paradigmas obsoletos. Nesse sentido, trabalhar na criação de novas possibilidades junto com outros profissionais do setor jurídico, consultores e coaches executivos torna-se fundamental. 

*Fernando Torrontegui, é consultor e coach executivo para ajudar advogados a identificar e atingir seus objetivos dentro das organizações, otimizando seu potencial profissional e pessoal. Ele também é um Legal Project Practitioner (LPP) e tem sólida experiência em gerenciamento geral, gerenciamento interino e gerenciamento de projetos. ([email protected])

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