Nunca vimos a evolução dos advogados internos como agora, que estão se tornando verdadeiros gestores. Exercer a advocacia e prestar serviços jurídicos já não são a mesma coisa. Já não se pode falar em segurança jurídica quando as empresas operam em ambientes incertos, com mudanças inesperadas e diante de uma regulamentação que, em muitos casos, fica atrás da tecnologia. Vivemos uma verdadeira revolução na forma de agregar valor à função jurídica, que é mais precisa, ágil e mede sua contribuição para a realização de planos de melhoria.
Nesse sentido, os advogados agregam excelência técnica e excelência operacional ao criar modelos de atendimento eficientes, rápidos e capazes de assessorar com base no risco.
A função jurídica: estratégia e reporting
O advogado interno participa da própria estratégia da empresa, participando do processo decisório e fornecendo critérios jurídicos. O diretor de assessoria jurídica, assessor jurídico ou CLO (Chief Legal Officer) se reporta diretamente ao CEO e, claro, faz parte do comitê de negócios das empresas, ajudando a minimizar riscos nas decisões.
A função jurídica começa a se localizar no organograma das empresas às quais pertence e onde pode ter um impacto proativo. No entanto, ainda existem algumas empresas em que o jurídico se reporta ao diretor econômico-financeiro, o que não só não faz sentido, como também não é uma boa prática no nível de governança, pois não favorece a independência do advogado, que está sujeito a um critério econômico.
Espero que este artigo leve as organizações em que isso ocorre a refletir e modificar essa situação.
Leia também: Marcelo Bielsa, o melhor gestor jurídico
O tamanho dos escritórios jurídicos
Mais de 20 anos de consultoria me levam a afirmar que muitos departamentos jurídicos ainda carecem de recursos dependendo do seu faturamento ou do número de funcionários da empresa. Para conseguir novas posições, é necessária uma justificativa de peso que, sem indicadores, é muito difícil de conseguir.
Cada posição deve ser conquistada com convicção, dados e comparações de mercado. Embora não existam muitas fontes em que se encontrem relatórios de benchmarking, há, por exemplo, o Relatório de pesquisa CLO do ACC, ou o estudo do setor jurídico da Esade, que tive a honra de dirigir, entre outros.
Analisar, justificar com dados e gerir com indicadores requer tempo, tempo que alguns advogados, sobretudo os que trabalham em departamentos pequenos e resolvem grandes cargas de trabalho, não dispõem. Os esforços de otimização exigem priorizar no dia a dia essa transformação, além de ser insistente e se tornar um agente de mudança para encontrar os recursos adequados, não apenas para o departamento jurídico, mas para o bem e a minimização de riscos do empresas.
Os departamentos jurídicos estão crescendo. Essa é a tendência. E também com novas profissões e perfis que auxiliam nessa revolução: engenheiros, economistas, cientistas de dados, gerentes de projetos e, principalmente, gerentes de Operações Jurídicas.
Principais desafios das consultorias jurídicas
Se observarmos os grandes desafios enfrentados pelos departamentos jurídicos de nosso estudo da Esade, veremos que eles estão relacionados ao campo das operações jurídicas na busca pela excelência operacional.
A verdadeira revolução não está na excelência técnica, mas em descobrir como prestar o serviço com eficiência, gerenciando riscos e medindo seu valor. A tecnologia é a chave para alcançar essa revolução, o que significa que os advogados devem estar, como nunca antes, cientes das ferramentas que podem ajudá-los a alcançar seus elementos de mudança.
Líderes para a mudança
Não é possível empreender essa revolução sem lideranças para a mudança cultural dos departamentos jurídicos.
Nunca antes os conselheiros gerais tiveram que promover uma nova forma de trabalhar, incutir esperança e quebrar esquemas tentando garantir que ninguém saia do barco. Nem os melhores processos nem a melhor tecnologia funcionarão se não tivermos as pessoas certas. Isso envolve treiná-los, orientá-los e ajudá-los a entender e compreender a mudança.
Tecnologia significa aprimorar processos e liberar o tempo do advogado para que ele se concentre nas tarefas de maior valor agregado e se aproxime do negócio e participe dos projetos desde o início.
Um profissional mais completo, mais capacitado
A mudança necessária de perfil dos advogados para realizar essas mudanças culturais transformacionais requer a incorporação de novos conhecimentos e novas habilidades além do conhecimento técnico jurídico. As operações jurídicas são necessárias nessa mudança, entendidas como a aplicação de técnicas de gestão para a otimização dos departamentos jurídicos.
As equipes se tornam mais líquidas, trabalham com outras áreas e profissionais da empresa (principalmente sistemas, finanças, TI etc.). Estamos na era da mensuração do risco e da rápida tomada de decisões para nos adaptarmos a um ambiente incerto que assim o exige.
Mas a esta mudança de perfil o advogado interno não chegará se não for vencida alguma resistência por parte dos chamados advogados tradicionais.
A aversão ao risco característico da profissão, em alguns casos, transforma-se em aversão à mudança. Tentar modificar as formas de trabalho, ancoradas na cultura tradicional, e incorporar novas tarefas e uma dimensão para além do mero trabalho jurídico não é fácil. Liderança e treinamento claros e vigorosos são necessários para mudar comportamentos. A visão partilhada de um departamento jurídico mais eficiente, mais integrado no negócio e com mais valor exige discernimento entre as tarefas que devem ser realizadas, as que devem ser delegadas e as que devem ser subcontratadas.
Em conclusão, o futuro dos serviços jurídicos não pode ser traçado sem entender o que está acontecendo nos departamentos jurídicos corporativos.
O advogado interno nas empresas deixou de ser um profissional acionado apenas quando há problemas e, aos poucos, ganhou espaço em cargos de gestão em que está envolvido na tomada de decisões estratégicas nas organizações. Os departamentos jurídicos vivem uma revolução nos seus modelos com o impacto da tecnologia e, sobretudo, numa mudança cultural que os levará a serem os profissionais mais evoluídos, mais preparados e prontos para qualquer desafio profissional dentro das organizações.
*Eugênia Navarro é co-diretora do certificado profissional na era digital em Legaltech com ESADE MIT Professional Education. E-mail: [email protected].
Add new comment